terça-feira, 11 de abril de 2017

Auto da Lusitânia

 O Auto da Lusitânia foi uma das últimas peças de Gil Vicente, escrito em 1931, e representado em 1532 perante a corte de D. João III, quando nasceu seu filho D. Manuel.          
          O Auto da Lusitânia é classificado como  uma fantasia alegórica, onde o autor deu o nome de Todo Mundo e Ninguém às suas personagens principais desta cena, onde Todo Mundo  era um rico mercador e Ninguém, um homem pobre.
  O auto começa com vários diálogos de pessoas comuns sobre amor, alguns picarescos  como convém a uma farsa,  até que entra em cena o Licenciado, que representa Gil Vicente e faz papel de narrador. Lusitânia é filha de Lisibea ( Lisboa) e do Sol, que por ela se apaixonou um caçador  grego de nome Portugal.
 Na primeira  parte, assiste-se as atribuições de uma família Judaica, já na segunda parte, assiste-se o casamento de Portugal, com a princesa Lusitânia.

Trecho:

Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma coisa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:

Ninguém: Que andas tu aí buscando?

Todo o Mundo: Mil coisas ando a buscar:
                         delas não posso achar, 
                         porém ando porfiando
                         por quão bom é porfiar. 

Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo
                         e meu tempo todo inteiro
                         sempre é buscar dinheiro
                         e sempre nisto me fundo.

Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
               e busco a consciência.

Belzebu: Esta é boa experiência:
             Dinato, escreve isto bem.

Dinato: Que escreverei, companheiro? 

Belzebu: Que Ninguém busca consciência.
              e Todo o Mundo dinheiro.

Ninguém: E agora que buscas lá? 

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
               que tope com ela já.

Belzebu: Outra adição nos acude:
              escreve logo aí, a fundo,
              que busca honra Todo o Mundo
              e Ninguém busca virtude.

Ninguém: Buscas outro mor bem qu'esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse
                         tudo quanto eu fizesse.

Ninguém: E eu quem me repreendesse
               em cada cousa que errasse.

Belzebu: Escreve mais.

Dinato: Que tens sabido? 

Belzebu: Que quer em extremo grado
              Todo o Mundo ser louvado,
              e Ninguém ser repreendido.

Ninguém: Buscas mais, amigo meu? 

Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma dê.

Ninguém: A vida não sei que é,
               a morte conheço eu.

Belzebu: Escreve lá outra sorte.

Dinato: Que sorte? 

Belzebu: Muito garrida:
              Todo o Mundo busca a vida
              e Ninguém conhece a morte.

Todo o Mundo: E mais queria o paraíso,
                         sem mo Ninguém estorvar.

Ninguém: E eu ponho-me a pagar
               quanto devo para isso.

Belzebu: Escreve com muito aviso.

Dinato: Que escreverei?

Belzebu: Escreve
              que Todo o Mundo quer paraíso
              e Ninguém paga o que deve.

Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar,
                         e mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo
               sem nunca me desviar.

Belzebu: Ora escreve lá, compadre,
              não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Belzebu: Que Todo o Mundo é mentiroso,
              E Ninguém diz a verdade.

Ninguém: Que mais buscas?

Todo o Mundo: Lisonjear.

Ninguém: Eu sou todo desengano.

Belzebu: Escreve, ande lá, mano.

Dinato: Que me mandas assentar?

Belzebu: Põe aí mui declarado,
              não te fique no tinteiro:
              Todo o Mundo é lisonjeiro,
             
 e Ninguém desenganado.




http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/auto_da_lusitania

2 comentários:

  1. Casino Site | LuckyClub Casino Review in India
    Find the latest online casino site in India. LuckyClub Casino has a long history of having its own software that runs 카지노사이트luckclub smoothly. We review all the

    ResponderExcluir